Dados de inflação IPCA, desdobramentos da crise política, os assuntos que vão movimentar o mercado hoje

Depois do Ibovespa despencar quase 4% na véspera, na maior baixa diária em seis meses refletindo preocupações com a pauta econômica do país diante do aumento da tensão político-institucional, o Ibovespa deve seguir sendo impactado pelos desdobramentos da crise política no Brasil.

O clima de tensão, após as declarações de Jair Bolsonaro no 7 de setembro aumentou, em meio a pontos de concentração de caminhoneiros em rodovias federais em 15 Estados, insuflado por bolsonaristas, o que é uma grande preocupação e alerta para o cenário econômico. O presidente enviou um áudio pedindo ao grupo que suspenda as paralisações porque podem provocar inflação e prejudicar a economia.

Os protestos dos caminhoneiros, aliados do governo, começaram um dia depois das manifestações do feriado. Em Brasília, o ato, patrocinado pelo presidente, foi marcado por presença significativa de caminhões na esplanada dos ministérios, sendo que muitos permaneceram no local ainda na quarta-feira.

Na agenda econômica, será divulgado o dado de inflação medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, que deve desacelerar frente julho, mas com os preços em alta seguindo como uma fonte de preocupação.

No exterior, a sessão é de queda, com os investidores à espera da decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e dados de pedido de auxílio desemprego nos EUA.

Inflação e noticiário político

Em palestra virtual promovida pelo banco Credit Suisse na quarta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o núcleo da inflação está muito mais alto do que a autoridade monetária gostaria e voltou a mencionar a diferença existente entre as expectativas de mercado e do BC para a inflação, com os agentes econômicos projetando IPCA mais alto.

Segundo Campos Neto, o BC começou a ver as expectativas do mercado para inflação em 2022 subindo também, e está focando maior parte da sua atenção nessa frente.

As edições do Boletim Focus indicam que agentes de mercado têm piorado suas projeções para inflação, agora em 7,58% para este ano e 3,98% para o ano que vem. O centro da meta oficial em 2021 é de 3,75% e para 2022 é de 3,50%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Já o BC, em sua última estimativa pública, feita em agosto, previu a inflação exatamente no centro da meta para 2022, a 3,5%, com uma alta de 6,5% neste ano.

“O que precisa ser dito é que nós temos autonomia, vamos agir de maneira independente com os instrumentos que temos, achamos que os instrumentos que temos vão fazer o trabalho e precisamos nos certificar que vamos comunicar isso com sabedoria”, afirmou Campos Neto.

A mensagem vem em meio ao forte avanço de preços na economia neste ano, embalado pela crise hídrica que catapultou o custo da energia elétrica e pela alta observada em preços de commodities.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico, o nível médio de água nos principais reservatórios está atualmente abaixo de 20%. Por medida de segurança, é recomendado o desligamento das usinas quando a concentração de água chega a 10%.

O dólar também vem subindo, afetado por temores fiscais e institucionais. Analistas vêm apontando que a postura de enfrentamento do presidente Jair Bolsonaro em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF) vem contribuindo para elevar incertezas.

Na quarta, o presidente do Supremo, Luiz Fux, afirmou que configura crime de responsabilidade o descumprimento de decisões judiciais. No ato de 7 de setembro, Bolsonaro ameaçou não acatar mais determinações do ministro do STF Alexandre de Moraes. A manifestação de Fux é tema de reportagens de capa dos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo.

A piora do ambiente político com a escalada dos ataques de Bolsonaro ao STF contribuiu para a forte queda do Ibovespa, alta do dólar e disparada dos juros.