O principal índice no Brasil de ações b3 que é o Ibovespa, foi desde o início da pandemia um destaque negativo por ter chegado a “ostentar” a marca de pior desempenho global entre os benchmarks de mercado. Em 2021, e graças ao rali das commodities em abril e maio, isso mudou. O índice inclusive voltou a chegar perto das máximas históricas de 125 mil pontos, chegando a encostar nos 123 mil pontos na última terça-feira (18).
Conforme destaca Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, o Ibovespa não só teve uma das maiores altas do mundo neste último mês, ocupando o sétimo lugar no período em dólar com alta de 8,12% até o fechamento da véspera, como agora não figura mais sequer no top 10 de piores quedas do ano.
Em 26 de fevereiro, a situação era completamente diferente. O Ibovespa batia sua mínima no ano, chegando a uma queda de 7,55% no acumulado de 2021, aos 110.035 pontos. Na época, o índice se consolidava como o pior do mundo.
De acordo com Ferreira, essa melhora se deve ao boom das commodities e ao fato do Brasil ser um dos países que mais tem exposição a esses produtos na Bolsa. “Em torno de 33% do Ibovespa é composto por ações ligadas a commodities, enquanto outros índices têm uma exposição muito menor ao setor”, explica.
É importante lembrar que o minério de ferro, principal produto exportado pela Vale (VALE3) se valorizou em mais de 30% este ano, batendo mais de US$ 200 a tonelada pela primeira vez na história no dia 7 de maio, o que impulsionou as ações da mineradora, que acumulam ganhos de 42,33% em 2021 e de 4,59% neste mês. Os papéis da Vale respondem por 12,3% da composição da carteira teórica do Ibovespa.
Outras commodities como o petróleo também registram ganhos consideráveis no ano. Em 2021, o barril do tipo Brent já subiu 34,43%, alcançando US$ 69,42. Apesar disso, as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) seguem operando no vermelho no ano, uma vez que as incertezas a respeito de intervenção política nos preços rondam a estatal desde 22 de fevereiro.
Vale lembrar, contudo, que os papéis da petroleira avançam 11,47% este mês. As ações da Petrobras representam 9,63% do Ibovespa.
Marcos Kawakami, gestor de fundos de ações da BNP Paribas Asset Management, acredita que com a atividade econômica global sendo retomada com o impulso das medidas de estímulo fiscal e planos de desenvolvimento de infraestrutura, que requerem uso intensivo de matérias-primas, é normal que as commodities se valorizem devido ao aumento da demanda.
“Não vemos também um grande aumento na oferta de commodities no curto prazo, então essa tendência de apreciação deve se manter”, diz Kawakami.
Além disso, para Ferreira, como o mercado está preocupado com o aumento da inflação nos Estados Unidos e os investidores globalmente procuram se proteger desse fenômeno, o Brasil acaba sendo um país muito bem posicionado nesse cenário porque está firmemente atrelado ao avanço dos preços de produtos básicos, que hoje pressionam os indicadores de inflação nos EUA.
Esta opinião é partilhada pela equipe de análise da Levante, para quem a valorização acentuada das commodities deve demorar para passar. “Apesar de alguns sustos com relação à inflação, os bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa devem manter as condições monetárias “estimulativas”. E em tempos de dinheiro farto e juros zero ou negativos, uma das alternativas dos investidores ao redor do mundo é comprar commodities para se defender da perda de valor da moeda.”
O estrategista lembra ainda que a Bolsa brasileira estava muito descontada devido aos problemas políticos e riscos macroeconômicos como a trajetória ascendente da relação dívida sobre o Produto Interno Bruto (PIB).
“Estávamos tão baratos e tão para trás que acabamos vivendo uma confluência de fatores benignos: estamos agora no melhor lugar possível para nos aproveitarmos de um mercado que busca se proteger da inflação”, avalia.
Por fim, Kawakami recorda que os resultados fortes dos bancos no primeiro trimestre também tiveram sua parcela de responsabilidade no bom momento da Bolsa. Itaú Unibanco (ITUB4) sobe 5,2% em maio, enquanto Bradesco (BBDC3; BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3) avançam 5,4% e 8,3% respectivamente.
Apesar do ROE (Retorno Sobre o Patrimônio Líquido) das instituições financeiras ter caído por conta do aumento da concorrência e das medidas do Banco Central para incentivar o crescimento de fintechs, Marcel Campos, analista de setor bancário da XP, conta que as empresas ainda estão muito ligadas aos grandes bancos, principalmente por causa do crédito e pela necessidade de um atendimento mais focado, que cubra necessidades mais complexas, enquanto as fintechs focam mais em pessoas físicas.
Expectativa de mais altas
Recentemente, a XP revisou a sua projeção para o Ibovespa para o fim de 2021 de 135 mil pontos para 145 mil pontos, destacando como as duas principais razões para isso o forte aumento nas expectativas de lucros das empresas do Ibovespa e uma leve acomodação nas taxas de juros de longo prazo no Brasil (taxas de juros reais).
A expectativa é de que o lucro por ação no Brasil deva crescer 199% em 2021 em relação ao ano passado. Mesmo quando comparado a 2019, 2021 deve apresentar um forte crescimento de 125%. Já para 2022, o mercado por enquanto projeta lucros estáveis em relação à 2021, muito provavelmente por conta da projeção do dólar mais enfraquecido frente ao real e preços de commodities normalizando em patamares menores.
Quem também revisou suas projeções para o Ibovespa foi a equipe de análise do Bradesco BBI, que elevou sua expectativa para a cotação do índice no fim do ano de 130 mil para 135 mil pontos. Para 2022, o Bradesco reajustou suas estimativas sobre o benchmark de 140 mil para 150 mil pontos.
“Enxergamos as ações brasileiras como um caso de compressão gradual e assumimos que o prêmio de risco vai cair gradualmente em 2021 e terá uma queda mais expressiva após as eleições de 2022, considerando uma redução no risco fiscal e político do país”, escrevem os analistas André Carvalho e Fernando Cardoso.
Para eles, os lucros das empresas que fazem parte do Ibovespa devem ser maiores do que se esperava em dezembro de 2020, algo que consideram ter sido impulsionado pelo aumento de preços das commodities, mas não só isso.
“Comparando as projeções do Bradesco com os números do consenso estamos mais otimistas que a média do mercado em tecnologia de informação, setor de saúde e indústrias em geral”, argumenta a equipe do banco.
O BNP Paribas, por sua vez, demonstra otimismo com a recuperação da economia brasileira, mas sem garantias de uma tendência de alta para a Bolsa no longo prazo. “Estamos otimistas com o cenário de vacinação, o governo assinou acordo com a Pfizer e, na margem, hoje o Brasil vacina em torno de 800 mil pessoas por dia, que é nosso cenário aceitável de ritmo na imunização”, explica.
Na opinião do gestor do banco, conforme uma maior quantidade de brasileiros esteja vacinada a ocupação dos leitos de UTIs nos hospitais deve cair e a pressão por medidas mais rigorosas de isolamento social também.
Com isso, Kawakami entende que o faturamento das empresas crescerá, uma vez que essa é uma crise de “represamento de consumo”, não um problema de crédito ou de perda no longo prazo da renda das famílias e empresas.
Todavia, ele alerta que a alta das ações neste cenário será desigual, com algumas empresas e setores se dando melhor, como ocorreu, lembra, entre 2010 e 2016, quando algumas companhias viram valorizações astronômicas em seus papéis, enquanto outras despencaram.
No momento o quadro para as commodities estão no positivo.
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