É possível de o dólar ficar abaixo dos R$ 5,00 analisando um cenário fiscal menos turbulento, resolvido o impasse do Orçamento, e com a visão de que a pandemia já atingiu o pico no país, segundo analistas.
Um sólido superávit comercial, com o boom das commodities, e o ciclo de alta da Selic também ajudam a moeda brasileira, enquanto as dificuldades de vacinação e as condições financeiras globais são riscos.
O dólar saiu do patamar de R$ 5,80 em março e fechou abaixo de R$ 5,40 na última quarta-feira, depois de ter rompido a média móvel de 200 dias.
O CEO da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, diz que o dólar pode cair para R$ 5,00 ou até menos com um alívio na pandemia, visto como crucial para a retomada econômica e a melhora das contas públicas.
“O Brasil vivia uma situação dramática até três semanas atrás e era fácil ser negativo em relação ao país”, afirma Figueiredo, que foi diretor de política monetária do Banco Central de 1999 a 2003.
O número de mortes diárias, ainda em patamar elevado, começa a recuar ligeiramente, depois de superar 4 mil no início do mês, e os hospitais relatam menos internações em UTIs. Além disso, o ritmo de vacinação acelerou em abril para uma média de 765.000 doses por dia, de 470.000 em março, embora ainda esteja aquém da meta do governo de 1 milhão.
Reformas
Passada a aprovação do Orçamento de 2021, os investidores agora monitoram um potencial avanço na agenda liberal do governo no Congresso. Para Carlos Menezes, gestor da Gauss Capital, o dólar poderá se depreciar rumo a R$ 5,00 com a perspectiva de encaminhamento das reformas.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, disse esta semana que as reformas tributária e administrativa podem ser aprovadas até o final do ano. Já no Senado, a CPI que investiga a atuação do governo Jair Bolsonaro na condução da pandemia monopoliza as atenções.
Taxa Selic – Nova alta
O ciclo de aperto da política monetário iniciado pelo Banco Central em março, e que deve continuar na próxima semana com nova alta da Selic de 0,75 ponto percentual, também é um fator de sustentação do real.
O câmbio pode chegar a R$ 5,10 no final do ano uma vez que a Selic suba para até 5,5% no Brasil e, no exterior, o Fed “não acabe com a festa”, mantendo os estímulos que favorecem ativos de maior risco, afirma Sergio Zanini, sócio e gestor da Galapagos Capital.
Fatores técnicos passaram a ter um peso maior no real após os recentes avanços, mas a próxima reunião do Copom e o cenário político devem também ser catalisadores importantes, diz Brendan Mckenna, estrategista de câmbio do Wells Fargo.
Balança e fluxo
A sazonalidade das exportações e a disparada dos preços das commodities, puxadas pela demanda da China, também contribuem para a entrada de moeda estrangeira no país.
O fluxo cambial está positivo em US$ 9,5 bilhões neste ano e a balança comercial acumula superávit de US$ 8,9 bilhões no mês, caminhando para recorde mensal.
As entradas de capital também podem ser beneficiadas por ofertas de ações de empresas, atraídas por uma bolsa com índice próximo ao recorde, e por leilões de privatização como o da Cedae, previsto para esta semana, da Eletrobras e Correios – estes dois últimos ainda pendentes de aprovação no Congresso.
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