Americanos ricos enfrentam aumento de impostos por Biden com raiva e pesar

Charles Myers estava em um assento de primeira classe em um voo entre Nova York e Dallas quando começou a receber uma enxurrada de mensagens no celular na quinta-feira.| Acabavam de divulgar a notícia de que os americanos mais ricos poderiam em breve pagar uma alíquota de imposto de até 43,4% sobre ganhos com investimentos.

O presidente da Signum Global Advisors não ficou animado.

“O aumento de impostos sobre ganhos de capital prejudica os mercados de capitais”, disse em mensagem de texto. “Melhor aumentar a alíquota marginal superior pessoal e o imposto sobre o patrimônio. Deixem os ganhos de capital e dividendos de lado.”

Myers captou fundos para Joe Biden, e não ficou chocado com o plano da Casa Branca, porque fazia parte da campanha do presidente dos EUA. Mas o doador não acha que a alíquota de 43,4% será aprovada.

Enquanto o avião descia, acrescentou: “Sobretaxar o sucesso não é americano.”

Desigualdade de riqueza

Cresce a pressão para elevar impostos sobre indivíduos abastados após décadas de cortes que beneficiaram desproporcionalmente o 1% mais rico. Políticos nos níveis nacional e estadual recentemente propuseram ou aprovaram alíquotas mais altas, mas as medidas foram em grande parte focadas no imposto de renda.

O plano de mirar ganhos de investimento atinge o cerne do que torna os americanos mais ricos cada vez mais ricos.

O 1% mais rico do país detém mais de 50% das ações em empresas e fundos mútuos, de acordo com dados do Federal Reserve. Os 9% mais ricos possuem mais de 30% das posições acionárias. Somados, o grupo dos americanos 10% mais ricos detêm mais de 88% das ações.

Ao mesmo tempo, a exposição dos 90% mais pobres às ações tem caído há quase duas décadas. Isso significa que o rali do mercado acionário no ano passado aumentou ainda mais a desigualdade de riqueza do país, deixando os 10 americanos mais ricos com mais de US$ 1 trilhão, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg.

Agora, Biden quer ajudar a pagar por uma série de gastos sociais que abordam a persistente desigualdade, taxando mais os ganhos de investimento, de acordo com pessoas a par da proposta.

O bilionário Tim Draper não está convencido. O capitalista de risco disse que aumentar os impostos federais para até 43,4% soaria como a sentença de morte para o Vale do Silício e a criação de empregos nos Estados Unidos.

Um sentimento semelhante foi ecoado por Michael Sonnenfeldt, fundador e presidente da Tiger 21, uma rede de empresários, investidores e executivos com uma média de US$ 100 milhões em ativos.

“Quando você aumenta os impostos drasticamente, cria desincentivos de modo que as pessoas mantenham os ativos por mais tempo do que o necessário para evitar um alto imposto sobre ganhos de capital”, disse. “Esse capital poderia ter sido mais bem empregado no próximo negócio que criará empregos.”

De acordo com o plano de Biden, a alíquota do imposto sobre ganhos de capital para indivíduos ricos aumentará para 39,6% em relação à alíquota básica atual de 20%. Para os que ganham US$ 1 milhão ou mais, a nova alíquota máxima será associada a uma sobretaxa existente.

Os que ganham muito também enfrentam a perspectiva de imposto de renda mais elevado. Em Nova York, legisladores aprovaram no início do mês um aumento de impostos sobre os que ganham mais de US$ 1 milhão – e alguns dos residentes mais ricos do estado enfrentam uma alíquota marginal combinada de 51,8%. Americanos com renda de mais de US$ 400 mil por ano também se preparam para impostos federais mais altos no governo Biden.

Debaixo do colchão

“Se a alíquota de 43,4% se tornar realidade, deve desencadear um êxodo de algumas das maiores ações em valor de mercado, já que muitos investidores provavelmente buscarão fixar seus ganhos de capital na alíquota existente antes do final do ano”, disse Jimmy Chang, diretor de investimentos do Rockefeller Global Family Office.

Morris Pearl, ex-diretor gerente da BlackRock e presidente do Patriotic Millionaires, coautor do livro “Tax the Rich!”, disse que não prevê uma mudança significativa no comportamento dos investidores.

“Ainda haverá pessoas com dinheiro para investir e ainda vão investir”, disse. “Colocar meu dinheiro debaixo do colchão é a alternativa, e os colchões não pagam muito.”

Fonte: Bloomberg