Inverno Cripto – 10 dicas do cofundador da Coinbase para sobreviver aos altos e baixos

Em 15 de março de 2021, o Bitcoin (BTC) estava cotado acima de US$ 59.000, somando mais de US$ 1 trilhão em capitalização de mercado e NFT (tokens não fungíveis) era uma sigla ainda desconhecida do grande público. A euforia dos investidores estava no auge, embora o topo do ciclo ainda estivesse 9 meses à frente. Pois exatamente nesta data, Fred Ehrsam, cofundador da Coinbase, então já à frente do fundo de investimentos Paradigm, publicou um texto intitulado “Sobrevivendo aos Ciclos das Criptomoedas, em que antecipa com mais de um ano de antecedência as turbulências atuais do mercado de ativos digitais”.

Com a experiência de quem vivera como protagonista aos ciclos de 2011, 2013 e 2017, Ehrsan foi capaz de prever o colapso de projetos com fundamentos fracos (caso Terra (LUNA), o aumento do cerco regulatório (que acontece em várias frentes e de formas variadas), gargalos de escalabilidade levados ao limite (lançamento dos terrenos virtuais do Otherside), entre outras coisas.

Na introdução do texto, o cofundador da Coinbase pondera que os eventos do passado não servem de instrumento para previsão do futuro, mas sim para preparar a todos para a ressaca e a violenta desvalorização de preço de ativos de uma indústria com grande potencial disruptivo:

“Como cofundador da Coinbase, passei por 3 ciclos de mercado anteriores, já experimentei esses picos de euforia antes. Também experimentei o desespero e a desilusão descomunal que se seguiram… Embora seja impossível prever o futuro, os ciclos passados nos dão uma noção de para o que devemos estar preparados. Eles podem nos ajudar a imaginar as possíveis consequências dessa última onda de euforia. E eles servem como um lembrete de que crises de incerteza e volatilidade são esperadas, dada a escala das oportunidades para as criptomoedas: uma tecnologia que poderia transformar não apenas o dinheiro, mas o sistema financeiro e a internet em geral.

Baseado na natureza cíclica de todos os mercados, Ehsram enumera características próprias de ciclos anteriores que servem de ensinamento para os participantes do mercado encararem as inevitáveis fases de baixa:

  1. Emoção se sobrepõe à razão: Ciclos tanto de alta quanto de baixa tendem a exacerbar as emoções dos participantes do mercado. Ganhar ou perder grandes quantidades de dinheiro afetam nossas emoções deforma que é fácil relegar a racionalidade ao segundo plano.
    Ser capaz de pensar com clareza é fundamental para não ser ejetado pelos movimentos do mercado ou mesmo para não abandoná-lo diante de eventuais perdas. Para não deixar que as emoções se sobreponham à razão é importante saber que os tempos de euforia e de alta são mais curtos e menos duradouros do que períodos de baixa ou lateralização.
  2. Atenção da opinião pública: Ciclos de alta atraem para o mercado pessoas com poucos conhecimentos e recursos para lidar com o próprio dinheiro, ao mesmo tempo que também atraem mais liquidez e capital, fazendo com que projetos com fundamentos precários ou mesmo golpes possam se tornar fonte de “dinheiro fácil”.
    Seja a própria mídia, influenciadores e analistas nas redes sociais, ou mesmo em relações privadas, entre amigos e familiares. No entanto, alerta Ehsram, em ciclos de baixa, é comum que projetos que “foram à lua” durante a alta tenham sua morte proclamada, com declarações raivosas e frustração por parte daqueles que inevitavelmente foram prejudicados.
  3. Só os fortes sobrevivem: Se na alta é normal que todos se beneficiem, durante a baixa, fundamentos inconsistente se estratégias equivocadas se tornam “implacavelmente evidentes”. Muitos não conseguem sobreviver.
  4. O ecossistema sai fortalecido: Invariavelmente, até hoje, os ciclos do mercado de criptomoedas terminaram com projetos, infraestruturas e base de usuários mais sólida do que quando começaram. Segundo, Ehsram, essa é uma afirmação válida para todas as métricas que se possam examinar: “Empreendedorismo e desenvolvimento, pesquisa, maturidade infra estrutural, adoção corporativa, conscientização pública e o preço e a utilidade dos ativos se expandem. Diminuindo o zoom, os ciclos podem ser reformulados como períodos voláteis em torno de uma curva de adoção relativamente consistente.”
  5. Atenção dos reguladores: Com a adesão de um número maior de pessoas e o crescimento da capitalização de mercado como um todo, é natural que os reguladores voltem a sua atenção ao espaço. Neste caso, a principal estratégia é se antecipar a possíveis mudanças para proteger o próprio patrimônio.
  6. Desenvolver a resiliência aos altos e baixos do mercado: Ehsram afirma que é mais inteligente tornar-se resiliente às mudanças do que tentar antecipá-las. Tanto em tempos de euforia quanto de desespero, agir de acordo com os próprios princípios e ideias é fundamental.
  7. Foco e concentração no longo prazo: “Os ciclos tendem a fazer com que a maioria das pessoas ajuste o foco para o curto prazo. A construção de um portfólio consistente deve mirar um horizonte temporal mais longo. Construir teses e estratégias de longo prazo é fundamental para ter sucesso nesse mercado. Como tudo parece perfeito em tempos de expansão, a tendência é querer aproveitar todas as novas oportunidades que se apresentam. Manter o foco em projetos em que verdadeiramente se acredita é um imperativo tanto em momentos de alta quanto de baixa. “O cemitério de criptomoedas está repleto de restos de empresas que se afastaram de sua missão principal em ciclos de baixa, apenas para assistir com angústia suas ideias sendo validadas no próximo ciclo de alta”, ensina Ehrsam. O mesmo vale para os investidores.
  1. Novatos devem agir com cuidado: É normal que novatos que entram no mercado durante ciclos de euforia acreditem que o destino é a lua e que os gráficos sempre desenharão movimentos ascendentes. Estes são os primeiros a querer abandoná-lo quando as coisas ficam feias e eles têm suas expectativas frustradas.
    Então, é preciso entender e aceitar a natureza cíclica do mercado. Por isso, não se deve desistir em momentos de baixa. Quem faz essa opção corre o risco de perder ou chegar atrasado ao próximo ciclo de alta.
  2. Filtrar as informações: Embora sejam mais estridentes durante os momentos de euforia, esse alerta é válido também para os ciclos de baixa: em geral, os ruídos tendem a ser mais atrativos do que as informações. A indústria de criptomoedas engloba dois ramos de conhecimento que exigem um mínimo de conhecimento técnico para que se possa navegá-la com segurança: finanças e tecnologia. Para ser um investidor bem sucedido é necessário entender minimamente os projetos aos quais se está confiando seu dinheiro. Por isso, evite fontes duvidosas e promessas mirabolantes, além, é claro, de “fazer a sua própria pesquisa”.
  3. Prepare-se para uma maratona: A indústria de criptomoedas é extremamente dinâmica. Basta ver que dos 10 maiores projetos em capitalização de mercado no topo da alta do ciclo de 2017, apenas 4 ainda fazem parte da lista atualmente: Bitcoin, Ethereum (ETH), XRP e Cardano (ADA). “Situações desafiadoras se tornam mais fáceis de lidar quanto quanto mais experiência você acumula nesse mercado. Dê a si mesmo a oportunidade de construir essa experiência”, recomenda Ehsram.
  4. Conclusão: O cofundador da Coinbase encerra sua reflexão dizendo que tecnologias disruptivas como as criptomoedas trazem grandes oportunidades e grandes incertezas em doses variáveis. E são justamente estas variações que determinam os estágios do ciclo: “Os ciclos não são bons nem maus; são naturais. Picos de euforia oferecem a oportunidade para o mundo sonhar com o futuro. O desespero do fundo do poço força a praticidade e a clareza. Quando as coisas vão bem, nunca são tão boas quanto parecem; quando as coisas estão ruins, elas nunca são tão ruins quanto parecem.”

-Fonte: Cointelegraph