“Nova Oi”: após a venda por R$ 12,9 bi do controle da InfraCo, mais um evento será acompanhado de perto pelos investidores

Companhia apresentará na próxima terça-feira (13) a nova fase do seu plano estratégico para o triênio 2022-2024

Em linha com o esperado, a Oi (OIBR3;OIBR4) fez a sua última grande venda de ativos na última quarta-feira (7), ao leiloar o controle (mais precisamente 57,9%) da InfraCo, que concentra a rede de fibra óptica, por um valor de R$ 12,9 bilhões. 

Como esperado, apenas uma proposta – a dos fundos do BTG Pactual em conjunto com a Globenet Cabos Submarinos – foi apresentada, sendo ela a vencedora. A Oi permanecerá como sócia minoritária, com 42,1%. O fundo norte-americano Digital Colony também fez uma proposta vinculante pela Infraco no começo do ano, mas não seguiu na disputa.

A Oi priorizou a venda de um vasto grupo de ativos de forma a enxugar o seu endividamento e sair do processo de recuperação judicial, em que está desde 2016.

Desde novembro de 2020, quatro grandes grupos de ativos foram vendidos pela Oi – alguns ainda sujeitos à aprovação por órgãos antitruste – levando a uma captação de R$ 30,79 bilhões pela companhia. Foram eles: i) as torres móveis vendidas à Highline do Brasil por um valor de R$ 1,07 bilhão; ii) os data centers vendidos à Piemont Holdings por R$ 325 milhões; iii) a telefonia móvel para o consórcio Vivo/TIM/Claro por R$ 16,5 bilhões e iv) a já citada venda da fibra óptica por R$ 12,9 bilhões.

O plano de desinvestimentos prevê ainda a venda da rede de TV por assinatura, mas o negócio é de apenas R$ 20 milhões, muito pequeno perto dos anteriores.

Analistas avaliam a venda de ativos da véspera que encerrou o ciclo de grandes desinvestimentos como positivo, ainda que bastante em linha com o esperado, o que acabou também por não ser um catalisador para as ações desde que o negócio foi fechado.

Ontem, os ativos OIBR3 fecharam em queda de 0,63%, a R$ 1,57, enquanto os papéis OIBR4 tiveram baixa de 2,16%, a R$ 2,26, na sessão desta quarta. A queda continua nesta data, com os ativos ON caindo 1,91%, a R$ 1,54, enquanto os papéis PN registravam baixa de 1,33%, a R$ 2,23, na tarde desta quinta-feira (8).

“O cenário atual já era o esperado pelo mercado, por isso não deve ter impactos significativos no preço das ações da companhia”, apontou a Levante Ideias de Investimentos.

A conclusão da venda dos ativos deve marcar o fim da recuperação judicial da Oi, tornando, em um primeiro momento, uma empresa com patamares saudáveis de endividamento, avaliam os analistas. “Apesar disso, ainda é incerto como funcionará e qual será a rentabilidade da nova operação considerando a entrada de mais sócios e o modelo de negócios de venda do uso da infraestrutura no atacado”, destacam.

A expectativa da Oi ao finalizar a venda de seus ativos é usar os recursos para focar no crescimento da empresa em banda larga fixa e encerrar o processo de recuperação judicial no final deste ano.

Neste sentido, após essa sequência de venda de ativos, um próximo evento será acompanhado de perto pelos investidores na próxima semana.

A companhia apresentará na próxima terça-feira (13) a nova fase do seu plano estratégico, para o triênio 2022-2024. A apresentação será por áudio-conferência a partir das 11h (horário de Brasília).

Com o plano, chamado de “Nova Oi”, a companhia deve reforçar o compromisso de expandir o seu negócio de banda larga via fibra óptica.

“Apesar da Oi ainda não ter dado detalhes sobre seu ambicioso plano, o enxergamos com bons olhos, visto que garante maior visibilidade com relação aos planos futuros da companhia”, afirma Luis Sales, analista da Guide Investimentos.

Conforme destaca o analista, sem a venda da operação móvel, em leilão realizado em dezembro, o plano de fazer a ‘’Nova Oi’’ seria inviabilizado, porque a companhia não poderia prescindir dos R$ 16,5 bilhões ofertados por Claro, TIM Brasil e Vivo. No caso da InfraCo, o dinheiro (R$ 12,92 bilhões) também é importante, mas abre-se a oportunidade de a Oi explorar um novo filão, também como provedora de infraestrutura neutra.

Isso porque, além da fatia de cerca de 42% na InfraCo, a Oi manterá a ClientCo, seu braço de prestação de serviços.

Conforme destacou ao InfoMoney Eduardo Neger, presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet), esse seria um movimento positivo: “A Oi poderá vender para outras empresas, sem atender o cliente final. Seria uma operadora das operadoras. Isso é promissor principalmente em grandes cidades, onde a estrutura está saturada. Algumas avenidas de regiões nobres de São Paulo, por exemplo, já têm mais assinantes do que cidades inteiras no interior”.

Sendo uma operadora neutra, a Oi poderia usar a rede da Vivo, por exemplo, para a venda de seus serviços e resolveria o desafio da penetração em regiões mais disputadas.

Enquanto isso, alguns desafios de curto prazo estão no radar da companhia. Um passo bastante aguardado é a aprovação da venda da Oi Móvel pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o órgão antitruste brasileiro. Mas o próprio Cade já afirmou que deve usar todo o prazo regimental de 330 dias – a serem encerrados no fim deste ano – para dar seu aval final sobre o negócio. Apesar da demora, a expectativa de especialistas e ex-conselheiros do Cade é que o órgão aprove a venda, mesmo que mediante algumas exigências.

“Apesar de acreditarmos que haverá uma concentração de mercado, não parece ter outra solução viável para este caso e por isso, após mais algum tempo de estudos, acreditamos que esta negociação deve ser aprovada”, apontam os analistas da Levante.

Enquanto isso, gestores e analistas que acompanham a companhia apontam outras questões. Em junho, Luiz Guerra, CIO da Logos Capital, gestora que tem Oi na carteira, destacou que o maior risco da Oi está na execução dos planos para fibra óptica. “Um plano dessa magnitude tem chance de dar errado. O que tranquiliza é que o [atual CEO, Rodrigo] Abreu e o Amos [Genish, fundador da GVT, que deve ser indicado pelo BTG para liderar a InfraCo] já fizeram isso outras vezes, então o track record dá segurança”, apontando ser essa a razão para estar otimista com a Oi.

Em abril, por sua vez, o Credit Suisse destacou ter recomendação neutra e preço-alvo de R$ 1,80 para a ação OIBR3, justamente citando a complexidade de execução e a falta de gatilhos positivos. Por outro lado, entre os otimistas, estão o Bradesco BBI, que seguem com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 3,40. A Guide também possui recomendação de compra das ações OIBR3 da empresa, com preço-alvo de R$ 3.

O evento da próxima semana pode ser um direcionador para os próximos passos da companhia, que está andando a passos largos para ser menor, mas também mais eficiente. O passo dado ontem foi considerado bastante positivo, mas ainda há muitas dúvidas entre os investidores.

– Fonte: Infomoney