Serviços de moda e varejo podem surpreender, ganho de mercado pelas maiores redes e maior consolidação
É grande a expectativa dos investidores pelo avanço da vacinação contra o COVID-19 no Brasil que pode render ganhos às ações negociadas na B3 e aceleração da economia. As empresas do varejo de moda estão entre as preferidas dos gestores, assim como as do setor de serviços. O que não está claro, no entanto, é se esses ganhos serão decorrentes de um represamento de compras ou se está ligado a uma melhora mais estrutural – e mais duradoura.
A imunização no Brasil ainda não atingiu 15% da população (considerando as duas doses da vacinação), mas há uma expectativa de avanço nessa cobertura, em especial a partir de julho. É essa aceleração, e consequente maior reabertura da economia, que pode fazer com que o resultado das empresas surpreenda de forma positiva.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas do comércio varejista subiram 1,8% em abril ante março, na série com ajuste sazonal. No acumulado do ano, a alta é de 4,5%.
Para os gestores, as empresas de varejo de moda, como Marisa (AMAR3) e Centauro (SBFG3), são as mais óbvias em um cenário de reabertura da economia. Esses papéis já acumulam uma alta expressiva nos últimos três meses (77% e 35%, respectivamente), mas o setor ainda tem oportunidades, como as Lojas Renner (LREN3), que no mesmo período subiram apenas 4,9%.
Lembrando que a rede varejista levantou quase R$ 4 bilhões em uma oferta de ações e os recursos serão usados em futuras aquisições e expansão orgânica.
O varejo de combustíveis, representado por BR Distribuidora (BRDT3) e Cosan (CSAN3), também tem potencial de ganhos, assim como o de aluguel de veículos. Nesse caso, a preferência de Leite é pela Localiza (RENT3) e pela Vamos (VAMO3), controlada pelo Grupo Simpar (SIMH3).
O gestor também coloca o setor de educação como um dos beneficiados pela aceleração da vacinação e maior abertura da economia. No entanto, esses papéis devem demorar mais a se recuperar, já que o aumento do número de alunos matriculados também depende de uma melhora no mercado de trabalho.
Jennie Li, estrategista de ações da XP, acredita que, além do varejo e empresas de educação, shoppings e bancos são outros segmentos que podem surpreender.
No varejo de moda, a preferência é pelo Grupo Soma (SOMA3), que recentemente comprou a Cia. Hering. O motivo é que a rede, dona de marcas como Farm e Animale, é focada em um público de maior renda, que foi menos atingida durante a crise causada pela pandemia da Covid-19.
“O Soma é mais resiliente por ter um foco mais na classe alta. O comércio está reabrindo e as pessoas voltam a comprar. É uma compra por “vingança”. Esse comportamento já ocorreu nos Estados Unidos”, explicou, incluindo a Arezzo como outra empresa que deve se beneficiar do movimento, assim como os shoppings da Multiplan.
Ainda no setor varejista, a estrategista vê potencial nos papéis do Assaí (ASAI3). O atacadista deve se beneficiar em duas pontas. Primeiro, ainda deve ser grande o número de pessoas que irão priorizar as refeições em casa. Na outra ponta, a reabertura de restaurantes aumenta a frequência de vendas às lojas da rede.
No caso dos bancos, a estrategista explica que é um segmento que naturalmente se beneficia dos momentos de crescimento da economia, já que há maior demanda por crédito das pessoas físicas e pequenas e médias empresas.
E não só o varejo de vestuário ainda tem espaço para se beneficiar da reabertura da economia. Marcelo Inoue, sócio e analista na Perfin Investimentos, lembra que o setor de serviços foi muito afetado pelas restrições impostas pela pandemia da Covid-19. Diferente do varejo, que ainda tinha a opção de explorar as vendas online, a prestação de boa parte dos serviços se dá de forma física. Com o relaxamento as regras, a Espaço Laser é uma empresa que deve se beneficiar, avaliou.
De acordo com o gestor, é hora de procurar empresas com boa estrutura de capital. “O ideal são empresas com baixo endividamento e bom relacionamento com fornecedor. Muito varejista pequeno ficou pelo caminho. Quem já era grande e estruturado vai ganhar ainda mais espaço.”
A Arezzo (ARZZ3), que recentemente anunciou a compra da Reserva e também entrou no mercado de calçados infantis é uma das apostas da Perfin. No varejo de moda, o gestor ainda inclui a Renner, que vê preparada para consolidações.
Outra indicação é a da Petz (PETZ3). A empresa teve um bom desempenho durante a pandemia, com o aumento das vendas online e conquistando mercado em cima de competidores menores. Com a reabertura, a varejista de produtos para animais domésticos tem a chance de garantir uma receita maior na prestação de serviços como banho e tosa.
Inoue afirma que o desemprego ainda elevado e a inflação são fatores de risco para o setor de varejo e serviços e por isso a busca deve ser por empresas mais resilientes, capitalizadas ou que vendam produtos de forma recorrente.
Tendo esses parâmetros, a última aposta da gestora Perfin é a Natura (NTCO3). Capitalizada, a empresa manteve a venda de itens de higiene pessoal durante a pandemia. Com a reabertura da economia, a empresa deve ver a intensificação das vendas nos segmentos de maquiagem e perfumes. sofreu uma queda de vendas mais intensa no segmento de maquiagem e fragrâncias.
Já Felipe Zodim, analista da gestora Atlas One, acredita em um segundo trimestre mais forte que o esperado pelo consenso de mercado e, com isso, revisões nos preços das ações.
Assim como Jennie Li, da XP, Zodim vê que o Grupo Soma e Arezzo saíram mais fortes da pandemia e tendem a se beneficiar da reabertura. Fora do vestuário, ele ainda vê oportunidades em Burger King, que sofreu com o menor fluxo de clientes nas lojas. Em sua visão, com a reabertura, a rede de restaurantes fast food vai se beneficiar do maior fluxo de clientes ao mesmo tempo que passou a trabalhar com equipes mais enxutas.
Mas esse potencial de ganhos não irá ocorrer sem riscos. Eduardo Carlier, analista da AZ Quest, reforça que a inflação mais persistente irá levar a nova altas de juros pelo Banco Central – a Selic atualmente está em 4,25% ao ano. Isso, para ele, pode ser um obstáculo para o processo de ganhos na reabertura.
Cabe destacar ainda a visão de algumas casas apontam que, apesar da recuperação prevista, algumas ações já precificam o cenário de recuperação da economia com a reabertura. Na semana passada, o Morgan Stanley revisou o setor de shoppings, reduzindo a recomendação para Multiplan (MULT3) e Iguatemi (IGTA3) a underweight (exposição abaixo da média do mercado) e reduzindo brMalls (BRML3) a equalweight (exposição em linha com a média do mercado), destacando que a tese de reabertura econômica parece mais do que precificada.
Os analistas veem que Multiplan e Iguatemi estão negociando entre os maiores múltiplos globalmente para o setor. “Embora estejamos prevendo uma recuperação significativa, estamos abaixo do consenso, pois o desafio [com a concorrência] digital permanece. Taxas de juros mais altas podem ser o próximo obstáculo”, avaliam os analistas. O preço-alvo dos analistas para Multiplan é de R$ 23 (queda de 0,3% frente o fechamento de terça-feira), de R$ 38 para Iguatemi (upside de 8,70%) e de R$ 11 para brMalls (queda de 3,55%).
Fonte: Infomoney
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