Conheça mais da joint venture entre Cosan e Shell e saiba quais os principais negócios da empresa que chama a atenção do mercado internacional.
A oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Raízen (RAIZ4) está em período final de reservas. Os investidores têm até o dia 2 de agosto para decidir se vale a pena colocar seu dinheiro antecipadamente nos papéis da empresa controlada pela Cosan (CSAN3) e a Shell (RDSA34).
Apontado como o maior IPO da temporada, a Raízen pode levantar até R$ 7 bilhões com a oferta, considerando um preço médio de faixa indicativa, entre R$ 7,40 e R$ 9,60, e a venda de 810 milhões de ações primárias.
Se o valor sair maior depois da precificação e a demanda alcançar a venda dos lotes extras, a captação pode chegar a R$ 10,4 bilhões – entrando para a lista de maiores ofertas da B3.
Existem algumas justificativas para tanto interesse do mercado financeiro. A primeira é o fato de estarmos falando da quarta companhia com o maior faturamento do Brasil: R$ 114 bilhões/ano.
A joint venture distribui e produz energia renovável, açúcar e etanol a partir da cana-de-açúcar, levando também essa energia para diversos países e caminhando junto às pautas ESG do mercado financeiro.
ESG de Raízen
50% da Cosan e 50% da Shell, a Raízen nasceu em 2011 com o objetivo de se tornar referência em energia limpa e renovável. Sua cadeia de valor começa no plantio da cana-de-açúcar e se estende até a produção de açúcar e etanol a partir da própria matéria-prima.
Entre as atividades centrais da empresa se encontram as ações sustentáveis que ganham espaço na agenda ESG do mercado. São elas a produção de bioenergia e etanol de segunda geração (E2G) a partir da biomassa do bagaço da cana-de-açúcar.
De acordo com a Raízen, a empresa é a única no mundo que consegue produzir E2G em escala comercial. Igor Tello, analista da Rio e Gestão, explica que na prática isso significa aumento de produtividade, sem necessidade de expandir a área plantada de cana.
“Trata-se de um diferencial competitivo em termos de produção, que atende aos critérios de sustentabilidade do ESG, além de ser um produto renovável e limpo que é comercializado e gera receita para a companhia”, diz Tello.
E a produção de bioenergia vai no mesmo sentido. Todas as 26 usinas que a sucroalcooleira tem pelo país são autossustentáveis em consumo de energia elétrica, sendo que 13 delas geram excedente que pode ser vendido.
Quase uma década depois da sua criação, o lucro operacional “Ebitda” da Raízen está em R$ 6,6 bilhões e o lucro líquido de R$ 1,5 bilhão (dados de 12 meses do 1T21). Além do faturamento de R$ 114 bi já mencionado.
Segundo André Pimentel, sócio-gerente da Performa Partners, não há uma empresa na América Latina que possa competir com o porte e o know-how que a Raízen apresenta neste momento no setor de energia.
“Ela pode apresentar ao mercado projetos para uma transição de energia renovável viável, o que é bastante significativo agora e preenche os requisitos de uma série de investidores preocupados com o meio-ambiente”, diz.
Nem tão doce
Independente das práticas sustentáveis, a Raízen é uma produtora de commodities e como tal está exposta às variações dos preços dos produtos. Um longo período de preços de mercadorias depreciados pode afetar os papéis da empresa.
Outro ponto que deve ser observado é a alta competitividade dos concorrentes. O mercado de distribuição de combustíveis no Brasil e na Argentina, onde a sucroalcooleira tem operações com o Shell Select, tem empresas fortes no ramo atacadista e varejista.
Não só, com a possibilidade de avanço no processo de privatização das refinarias da Petrobras, as batalhas pelo setor aqui dentro podem ficar mais acirradas. Novas empresas estão dispostas a adentrar nesse mercado e muitas acenam a bandeira ESG, assim como a Raízen.
Para Igor Tello, todas essas questões devem ser avaliadas junto ao risco do próprio IPO. Nos últimos meses vimos muitas companhias desistindo de suas ofertas por causa da volatilidade do mercado. Essa mesma volatilidade resultou em IPOs de sucesso, como o da CSN Mineração (CMIN3), e outros nem tanto, como o da Três Tentos (TTEN3).
“A Raízen tem uma reputação de boa gerência e, com a atração internacional, pode se beneficiar no curto prazo. Mas tudo isso também pode fazer escalar os preços do papel e os investidores acabarem com uma ação supervalorizada no bolso”, diz o analista da Rio Gestão.
Raízen e a diversificação de negócios
No ano passado, a Raízen inaugurou a primeira planta de painéis fotovoltaicos em Piracicaba (SP), de olho na diversificação da geração de energia limpa, além de comprar 81,5% da Cosan Biomassa.
A empresa também firmou parceria com a Femsa Comércio e juntos criaram o Grupo Nós, joint venture focada no negócio de lojas de conveniência nos postos de serviço da marca Shell Select e da marca Oxxo.
Igor Tello destaca que uma das frentes do Grupo Nós é a digitalização das lojas de conveniência e expansão dos serviços. Embora tenham penetração baixa no Brasil (25%), apresentam bons números lá fora e podem prosperar por aqui com o tempo.
“Cerca de 34% da receita dos postos digitalizados são de novos clientes. Essa é uma área que deve ganhar atenção da Raízen após o IPO”, diz o analista.
A empresa pretende criar lojas que ofereçam estrutura e ofertas mais competitivas. “Os consumidores terão itens de padaria, hortifruti, bomboniere, açougue, pet shop, bebidas, mercearia, higiene e limpeza para reposição diária com a praticidade de endereços próximos a suas casas e em locais de grande circulação, como arredores de metrôs e terminais de ônibus”, diz em seu site.
A primeira inauguração deste modelo aconteceu em Campinas, no interior de São Paulo, em agosto de 2020. Somente no Brasil são 1.100 postos Shell Select e mais 200 na Argentina. De acordo com a Raízen, em três anos, 500 novas unidades serão lançadas.
Como ficam Cosan e Shell
Os especialistas ouvidos pela SUNO Notícias afirmam que é natural que haja uma valorização das controladoras da Raízen no curto prazo. Porém, eles alertam que isso não significa uma alta sustentável no longo prazo.
“Dependendo da popularidade da estreia, a Cosan pode sentir os reflexos desse IPO na forma de valorização. Mas o investidor deve ficar de olho, porque pode ser especulação momentânea”, alerta Tello.
De forma geral, não há grande diferença para a Cosan pós o IPO da Raízen. O que acontece é que a empresa não deterá mais metade das ações da sucroalcooleira, e sim cerca de 46% dos papéis.
Para Pimentel, o sucesso desta oferta pode fazer deslanchar a independência de outros negócios que a Cosan tem. São eles:
- Compass/Comgás: distribuição de gás na Grande São Paulo;
- Moove: produção de lubrificantes em parceria com a Exxon;
- Rumo: logística e escoamento.
“Vai ser interessante para ambas as empresas ver como a Raízen lida com diferentes setores após o IPO. Com isso podem nascer oportunidades de spin offs dessas operações, para seguirem no mercado sozinhas”, afirma Pimentel.
-Fonte: Suno
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