Setembro chove? Veja as ações que mais sofrem com a crise hídrica

O Brasil passa pela maior crise hídrica das últimas nove décadas. Mesmo que a situação não seja inédita, com problemas similares ao de 2001 e 2014, preocupa sob o ponto de vista da recuperação econômica, com o país procurando se livrar das influências negativas da pandemia.

Segundo um relatório da XP, o risco de racionamento de energia já está em 17,2%. Desde abril, o nível de chuva está abaixo da média e os rios que enchem os reservatórios das hidrelétricas estão cada vez mais vazios, agravando a crise hídrica.

Especialista ouvidos apontam para uma situação muito difícil ao menos até o início de outubro, quando começa a temporada mais úmida do ano, conforme informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

A base de dados é grande: são 91 anos de monitoramento hidrelétrico e 125 anos de verificação do nível do rio.

Mas o que isso significa para as empresas listadas na B3 (B3SA3)? Quais são os setores — e por quê — terão semanas ainda desafiadoras? Ou, então, quem está com a situação sob controle?

As empresas ligadas ao setor de energia elétrica são amplamente representativas no Brasil, ocupando uma fatia de quase 6% do Ibovespa. As companhias que fazem parte do índice são:

  • Equatorial (EQTL3);
  • Eneva (ENEV3);
  • Eletrobras (ELET3);
  • Cemig (CMIG4);
  • Energisa (ENGI11);
  • Engie Brasil (EGIE3);
  • Taesa (TAEE11);
  • CPFL Energia (CPFE3);
  • EDP Brasil (ENBR3);
  • Copel (CPLE6).

O desafio para as hidrelétricas

Atualmente, cerca de 70% de toda a energia do Brasil é gerada por hidrelétricas — situação bem diferente do apagão do início do século, quando a matriz energética era concentrada em mais de 90% nas hidrelétricas.

Portanto, deste ponto de vista, o Brasil está menos sufocado. Porém, se não chove, não tem para onde correr.

“Quando uma hidrelétrica chega a 10% da capacidade no reservatório, o volume de água que ali está não é mais suficiente para a geração de energia”, diz Augusto Caramico, head de research da Garín Investimentos. Os reservatórios atualmente estão próximos de 22%, em média.

O problema, segundo ele, é que atualmente os reservatórios estão caindo cerca de 0,2% ao dia, o que acarreta em uma perda de aproximadamente 8% ao mês. O desafio tende a ser cada vez maior para as hidrelétricas.

Caramico afirma que “a expectativa é de que novembro comece a chover, mas não será o suficiente para a retomada completa dos reservatórios”.

Eletrobras com a maior bucha da crise hídrica

Entre as listadas na Bolsa brasileira, a Eletrobras corresponde, sozinha, a 40% da geração de energia. Desta parcela, 87% é hidrelétrica.

Engie tem 72% em hidrelétricas, e representa 14% das listadas. A companhia também tem uma operação térmica (15%) e outra, eólica (13%).

“Quem tem a melhor matriz energética é a Ômega Geração, que tem 70% de geração eólica e 24% de geração solar. Somente 6% é hidrelétrica”, afirma o especialista. Entretanto, ela representa somente 2% da geração entre as listadas.

No cenário mais estressado, as geradoras que estão dependendo da chuva poderiam ter de paralisar as usinas. “Essa interrupção atrapalharia todo o ONS, pois precisaria readaptar toda a cadeia.”

“Para agora, não acho que irá faltar energia. O cenário está ruim e segue deteriorando. Vejo que a energia ficará mais cara, não faltante”, comenta Caramico. “Mas, caso não chova no verão, aí sim existe a possibilidade de falta de energia em 2022.”

O passado, presente e futuro das geradoras

Segundo Ilan Arbetman, analista de renda variável da Ativa Investimentos, no segundo trimestre foi observado um movimento intenso das geradoras para equalizar o portfólio energético, com o objetivo de evitar maiores surpresas no segundo semestre, especialmente no segundo trimestre do ano.

Os meses entre julho e setembro marcam o melhor período para a geração eólica, mas a hidrelétrica tem o pior momento. O GSF (grau de garantia física) é mais baixo, e o PLD (preço de liquidação de diferença) fica mais alto.

“A situação que mais me preocupava era da Cesp. Mas, no segundo trimestre, ela fez os ajustes necessários para suportar o segundo semestre, também realizando as compras no mercado para fechar o balanço para o ano que vem. A situação parece estar sob controle.”

-Fonte: Suno